quarta-feira, 29 de julho de 2015

Falando de sonhos

                                 
                                                                                                  
    Sonho. Já perceberam como essa é uma palavra que não usamos muito? Parece que temos um certo receio de dizê-la em voz alta, ou de dizê-la simplesmente. No sentido de uma aspiração, objetivo, é claro. Tem gente que prefere “meta” ou “plano” porque, dizem, assim o projeto parece mais real. Tem gente que prefere não utilizá-la levianamente, por tão preciosa e brilhante; tem gente que prefere não utilizá-la hora nenhuma, por considerá-la vã e tola por si só. A palavra importa porque reflete a coisa, e o modo como consideramos a primeira traduz o nosso pensamento em relação à segunda. 

    Eu sinto que estamos perdendo nossa capacidade de sonhar, em vários sentidos, − e, o mais triste, desde muito pequenos. É um grande “mico”, já na mais tenra idade, acreditar em papai noel, por exemplo; as crianças descrentes zombam da inocência daquelas que creem, e os adultos acham muito bonito espinhar essa inocência, criar pequenos que sejam, ou pareçam ser, crescidos. 

    Parece que estamos vivendo uma era em que tanto a magia quanto a perseverança estão fora de moda. As pessoas preferem ser vistas como realistas (apáticas), ou pessimistas (descrentes), que tem os pés no chão (incapacidade  de lutar pelo que querem ou acreditam) e só consideram para si e seu futuro cenários não muito desafiadores que julgam adequados à sua realidade (pequenez). 

    Stephen Chobsky disse “nós aceitamos o amor que achamos que merecemos”. Eu digo que nós aceitamos os sonhos que nos achamos capazes de realizar. Quem não acredita nos seus sonhos é porque não acredita em si mesmo.

    Além da realização de um sonho em si, o que está envolvido nisso também é antes a capacidade de sonhar, muito inerente ao ser humano - aquele que enxerga e incorpora o encanto que existe em viver, encanto tão simples mas tão belo que não devemos perder, não podemos deixar morrer ou esvair-se. Quem vive sem sonhar é pior que um fantasma, um mero cadáver, porque o primeiro pelo menos vive por um sonho.

    Quanto aos sonhos em si, eles merecem apreço e atenção por si próprios também, e não só por serem indicativos da capacidade de alguém de sonhar. Pois, quem tem o direito de desmerecer o sonho do outro? Quem tem o direito de ridicularizar a mais cara ambição de outro alguém? Quem pode convenientemente se deixar esquecer e se esquecer de lembrar o seu próximo de que é impossível começar do topo, e quem está lá chegou porque, primeira e principalmente, no início e ao longo todo do caminho, acreditou?

     Se existe uma espécie de ser humano de que eu particularmente não consigo gostar é aquele que faz do sonho do outro (e de todos os quase sempre custosos passos envolvidos em conquistá-lo) motivo de riso, menosprezo, deboche. Aquele que desfila destilando pessimismo e uma muito estúpida sabedoria que vê em “cair na real”, tentando falar a todos em sua volta que “caiam” também.

    Até pouco tempo atrás, eu tinha uma raiva ardente dessas pessoas. Hoje, porém, eu entendo algo que transformou essa raiva em pena: aquele que tenta descreditar o sonho do outro o faz porque nunca acreditou no seu próprio. Aquele que diz soberbo ao outro que “acorde para a vida” e largue de “ser bobo”, desista das suas “fantasias” o faz porque teve seus próprios sonhos frustrados em ilusões, interrompidos antes mesmo do ponto de partida.

    Eu não tenho pena de quem sonha, mesmo quando sonha um sonho improvável, um sonho que pareça impossível. Eu não tenho pena de quem tentou, tentou, fez tudo o que pôde e não realizou plenamente o seu sonho, mas o viu partido. Eu tenho pena é de quem não ousa sonhar.

    Eu tenha pena de quem se acomoda, de quem se contenta, de quem se conforma. Tenho pena de quem não se perde imaginando e antecipando o que quer viver, se encontra construindo esse caminho, e é feliz nos dois momentos. Tenho pena de quem não se arrisca e faz escolhas buscando a segurança, rejeitando a aventura, deixando seus sonhos para trás por medo do fracasso. 

    Pois, o fracasso faz parte do sucesso; e é muito raro o caso de quem experimentou a doçura da vitória sem ter provado primeiro, em algum ponto, o amargo da derrota. Aquele que não se atreve, não ousa, que se acha alto demais para rebaixar-se às pedras do caminho, submeter-se às intempéries da jornada, aos primeiros passos que não raro são pequenos, aos grandes passos que raramente rendem de imediato todo o sucesso esperado, esse sim é um ser pequeno, e nunca chegará ao topo. Nunca saberá a satisfação de ter escalado cada centímetro da montanha para chegar a seu cume, nunca conhecerá o riso que vem da lembrança de cada um obstáculo enfrentado depois de tê-los todos superado. Nunca poderá respirar fundo, suspirar pleno e sorrir, dizendo “sabe, estou feliz por ter realizado o meu sonho hoje”.

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