quarta-feira, 1 de julho de 2015

A beleza da sinceridade

                                                                    

   Se existe uma qualidade que está em falta é esta. Sinceridade. F-R-A-N-Q-U-E-Z-A. Nosso mundo vive uma escassez grave desse atributo, uma falta epidêmica dele. Pouquíssimas pessoas parecem ter a capacidade de falar simplesmente o que estão sentindo e querem falar num certo instante, com relação a alguma situação ou alguém. Nós, brasileiros, particularmente, temos o péssimo hábito de cultivar uma falsa polidez calada que fala bem menos do que devia, exatamente quando deveria. Nos momentos ruins ou bons, quando alguém está pedindo para ouvir umas verdades ou merece ouvir elogios e saber como é admirada, nós nos calamos. Engolimos o que queríamos xingar, ou silenciamos o que queríamos de bom expressar.

    Por insegurança, por medo, por falta de costume em manejar bem as palavras justamente no instante em que elas são mais precisadas, por bem ou por mal, nós nos calamos. Quando alguém fura a fila descaradamente na sua frente, ou quando outro alguém fala algo muito bonito, muito belamente, algo com que você consegue se identificar plenamente porque também pensa ou sente assim, nós somos contidos. Se dizemos qualquer coisa, é tão pouco, tão mais tímida e levemente do que realmente queríamos dizer, que chega a ser bem como se não tivéssemos dito nada.

    E isso incomoda. Essa raridade de algo tão necessário impressiona negativamente, e talvez seja por ela que ficamos admirados tão facilmente com uma demonstração simples de straightforward, direta, franca e aberta fala. Eu, particularmente, para ser sincera, sinto muita falta de preto no branco, de ouvir o que as pessoas de fato pensam e sentem num momento, e percebe-se que não estão dizendo. Sinto falta de saber o que está acontecendo numa certa situação em que claramente algo muito sério está acontecendo mas nada é dito, nada é esclarecido e os envolvidos lidam veladamente com o problema, sem nenhuma confrontação ou ato de pôr as cartas na mesa, − ou não lidam, de modo algum, fingindo que nada está acontecendo.

    Assim, eu francamente não consigo desgostar de pessoas que são naturalmente supersinceras, como o nosso caro Dr. House, a Dowager Countess de Downton Abbey, ou a Santana de Glee, só para dar alguns exemplos. Pessoas que dizem exatamente tudo o que pensam, sem rodeios ou suavidade, não raro abobalhando a todos com sua ironia, essa generosa ferramenta de linguagem que, no fim, é tão somente um brilhante instrumento de dizer, francamente, a verdade, todas as verdades (algumas das quais, inclusive, bastante cruéis). Pois, realmente, a gente fala tanto do que não sente de verdade e deixa calar tanto do que realmente sente que isso não pode ser saudável − tanto para cada um, individualmente, lá dentro, quanto em nossas relações, de todas as naturezas. E quem possui o dom e a coragem de fazer o contrário, ah, essa pessoa brilha, e com certeza está um passo a frente de todos nós em quesito de saúde da alma e das suas convivências.

    Em suma, o que eu queria dizer hoje era isto: estamos carecendo de sinceridade! É claro que há certa magia na sutileza, na entrelinha, certo encanto na maciez de falas e maneiras, na habilidade de comunicar o que quer dizer sem a voz, subentendidamente. E também há certa absurda e desnecessária rudeza em verdades que talvez não precisavam ser ditas. Mas, existe uma beleza inextinguível na sinceridade, essa qualidade que parece estar ameaçada de extinção e que, se bem dosada, não faz mal a ninguém. De verdade. Pelo contrário - como raios teimosos que descem à terra de um sol tampado insistentemente por nuvens negras, ela é bela, brilhante, radiante. E como nós precisamos dessa luz, desse brilho!

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