quarta-feira, 15 de julho de 2015

Compatibilidade

     
      O que atrai as pessoas umas às outras? Ou, aliás, o que atrai uma pessoa à outra? São as semelhanças, os gostos parecidos, interesses semelhantes, modos de pensar que se lembram? São as diferenças, o que não há em um que pode ser completado pelo outro, os contrastes que se encaixam e se aliviam, o desafio de poder experimentar o mundo através de alguém completamente diferente?

    Diz o ditado (e a física) por aí que os opostos se atraem - embora esse assunto gere controvérsias.

   Particularmente, entre semelhanças e diferenças, eu fico com compatibilidade. Sintonia. Afinidade, entendimento. A capacidade de falar a mesma língua com alguém sobre alguma coisa - seja ela ponto em comum ou de divergência -, de entender o outro e viver deliciosamente com ele como ele é. De sentar para conversar com a pessoa, e a conversa fluir simplesmente...

    Compatibilidade. É ela, para mim, a responsável por levar alguém a outro alguém, mesmo antes de um encontro. Quero dizer, existem aqueles que não conhecemos para com quem somos neutros, quase indiferentes; aqueles de quem, por intuição qualquer, desgostamos (com quem não simpatizamos), e aqueles à quem nos sentimos puxados positivamente, mesmo sem conhecer muito. Isso, creio eu, é explicado pelo poder da compatibilidade.

     E é essa mesma compatibilidade, para mim, a responsável por fazer dois alguéns, depois de um bom conhecimento, se darem esplendidamente bem. É mais sutil do que semelhança e diferença, e ao mesmo tempo, algo mais concreto. É aquela coisa que, quando existe, não se percebe. É tão mágica que está ali, mas ninguém se dá conta dela. E é tão forte que, quando não existe, sua ausência é gritante. É notável, muito perceptível, catastrófica.

    Talvez, princípios da química possam explicar isso melhor que aqueles da física, porque essa dinâmica e viva harmonia da compatibilidade parece com aquele mistério das misturas. Algumas substâncias se misturam. Imediatamente, instantaneamente, sem nenhum truque ou intervenção de fora, naturalmente. Elas conversam. Algumas misturam-se de um jeito tal que é até difícil separar. Outras não se misturam, simplesmente. E não importa o quanto de cada uma você tente colocar junto, quantas vezes tentar, que elas não vão se misturar. Não vão; a coisa não acontece. Elas não conversam.

    (E se houver algum químico aí lendo-me que possa explicar o porquê dessa miscibilidade baseado em propriedades das substâncias, ou alguma outra mirabolância do além, eu sinceramente peço que perdoe a minha ignorância, e não a esclareça. Tem certas coisas que perdem o encanto quando se explica demais. É melhor deixá-las no mistério. E na metáfora.)

    Enfim, como na maioria dos assuntos do coração, e das relações humanas, eu acredito que para isso não há regra. Não existe receita, nem um padrão definido de atração e harmonia entre as pessoas. No entanto, quando não há compatibilidade, química, sintonia, é muito difícil uma relação dar certo, seja ela de qualquer natureza. E me parece evidente que, quando ela existe - seja entre semelhantes ou diferentes, pessoas tão semelhantes que parecem ser uma mesma ou tão diferentes que a princípio parecem não habitar a mesma galáxia -, existe também para essa relação um futuro. Existe conversa, comunicação, e um certo encanto. Pois, mesmo num mundo tão real quanto o nosso humano, nada floresce sem um pouco de magia, uma pitada de encanto.


3 comentários: