quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Tempo de aprender com o tempo

                                                                   

      Engraçado... Esses dias fui perguntada se não faria uma postagem especial, atípica, acompanhando o tempo... o tempo... É natal, afinal, não é? Ou quase. E logo depois dele, encostamos no parapeito de um novo tempo, o ano próximo... É, talvez valha mesmo uma reflexão diferente.

       Assisti a um filme dia desses que talvez aqui se encaixe. "About time" conta a história de um moço, Tim, que pode viajar no tempo, assim como todos os homens de sua família. Não pode ir ao futuro, é claro, nem mudar o mundo todo no passado ou fazer revoluções... Mas, pode sim mudar sua própria vida, ao viver alguns certos seus momentos novamente, fazer diferente.

       A mensagem final do filme é a seguinte: não precisamos voltar no tempo. Não precisamos de segundas chances. Precisamos viver bem a primeira. Reparar as pequeninas belezas do nosso dia que às vezes, no corre-corre, deixamos passar batido. Não dizer aquela palavra rude que podemos trocar por uma mais leve, evitar o horroroso e velho "cair no automático". Rir todos os risos, chorar todas as lágrimas, abraçar todos os braços e todos os abraços. Tomar tempo para si mesmo, para quem você ama, deixar o trabalho para lá um pouquinho, a preocupação, a exigência... Deixar a opinião dos outros, a exigência, a vergonha... No final, nada disso vai importar. Só vão restar mesmo as lembranças, as lembranças sorridentes dos sorrisos calorosos, dos momentos luminosos, perfumados, saborosos...

      Se eu tivesse que definir, diria que este tempo do ano é, mais que todos os outros, tempo de lembrar. Voltamos todos para casa, então, para nossas raízes, nossas origens, a família - que tem em si, quase sempre, nossos primeiros amigos, primeiros amores, primeiros horrores... Voltamos e vamos embora, com a lembrança talvez reavivada, desta que é uma beleza preciosa da vida da qual às vezes nos deixamos esquecer, mas não devemos.

    Vamos viver, meus amigos, o tempo de lembrar. Lembrar de que, em termos de laços, a idade é sim documento. Ela os torna mais fortes, difíceis de desatar. Lembrar de que família não é só para a hora do aperto, nem do casamento do primo distante. Lembrar que a gente só vive uma vez, sem replay, nem teste, e por isso, tem que tentar fazer... bem feito. Tão bem feito quanto pudermos.

      Lembrar que o mundo lá fora pode esperar que nós meditemos e relaxemos. Que nada pode ser mais urgente do que a nossa paz. Lembrar de não se furtar de pequenos prazeres de grandeza imensurável - que seja a leitura de um livro, o ouvir uma música, um beijo bem dado, a lambida do vento ou de seu canino melhor amigo. Lembrar de sempre trocar uma carranca por um sorriso, um silêncio sério por um silêncio alegre, um olhar vazio por um... cheio.

      Não esquecer que as melhores delícias são aquelas saboreadas aos pouquinhos, e que viver é uma delas. Não esquecer que grandes pessoas se mostram através de pequenos gestos, grandes amores se demonstram por pequenos atos, grandes mudanças se realizam nas pequenas ações. Não esquecer que... bem, nós esquecemos de perceber todas essas pequenas coisas porque passamos muito tempo preocupados com as grandes. Ou as que parecem, só parecem, maiores.

      Então, vamos lembrar. Anotar mesmo na mente, no peito, na alma. Por mais confusa que ande nossa memória por conta das tantas coisas de que precisa dar conta, existem algumas certas lembranças que não podemos deixar empalidecer, temos que ter sempre frescas, sempre vivas com a gente.

      Acima de todas, a lembrança de que o tempo de viver é agora. E que sempre também é tempo de aprender com o tempo.

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