sábado, 12 de setembro de 2015

Medianeras - solidão, arquitetura e cidade grande

        Eu adoro cinema argentino! Além de um humor sarcástico afiado, linhas bem escritas e bem entregues, atuações excelentes, enredos pouco convencionais e muito intrigantes, ele quase sempre traz em suas produções críticas inteligentes. Críticas pertinentes, vorazes, que, apresentadas de forma simples, quase delicada, se fazem ainda mais marcantes ao espectador.

                                                      

       Fazendo um belíssimo questionamento acerca do papel que a arquitetura e o planejamento urbano têm em modelar as nossas vidas através do espaço, Medianeras (2011) conta a história de duas pessoas que são feitas uma para a outra e dariam o melhor dos casais, se apenas se conhecessem. Eles moram na mesma rua, em prédios vizinhos, mas nunca se encontram.

      Acompanhamos Mariana e Martín - ela, uma arquiteta por formação que se torna, por falta de oportunidades, desenhista de vitrines; ele, um web designer - em suas jornadas pela vida a um só tempo corrida, frenética, múltipla e extremamente solitária e cinza que levam na Buenos Aires da era digital. A vulnerabilidade de cada um, o isolamento, o modo como vivem seus dias, acanhados, retraídos, frustrados e carentes, é tanto o que os separa quanto o que, à distância, os junta, e no outro lado da tela, o que cala o espectador, angustiado com o que vê e sabe ser apenas tão verossímil, ansioso para que alguma mudança aconteça - na estória e na realidade.

     A canção - "True love will find you in the end" de Daniel Johnston, cantada na sua voz crua e agreste, como o filme, sem grandes produções e retoques a enfeitá-la - é perfeita para "Medianeiras". Embala uma de suas cenas mais emblemáticas, não só; mas chega a ser o musical representar de toda a película, melodiando as sensações que ela desperta, traduzindo a nostalgia pintalgada de vaga esperança, doçura, suspiro que ela deixa em quem se deixa por ela tocar.

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