quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Em busca de sentido

  
 Sabe aquela sensação de perdido e desnorteado que nos assola de vez em quando? Aquele desânimo que bate de esperar os dias passarem só, sem nada que os preencha, que nos mova? Aquela percepção de que estamos sendo meros espectadores de nossa própria vida?
   
    Isso é sintoma da falta de um nutriente que eu sinto essencial para a vida da gente: sentido. Sentido como direção e significado. Um rumo que nos aponta onde queremos chegar, o que estamos buscando; um objetivo e uma alegria que nos façam sentir que a nossa vida vale, e não está sendo passada em vão. Que estamos com ela cumprindo alguma espécie de tarefa que colocamos a nós mesmos, fazendo a nossa contribuição, realizando algo que nos seja importante.
   
    Recentemente, eu li um livro (e vi seu filme) que aborda esse tema de modo brilhante. “O diário de Carson Philips” conta os dias de um jovem cujo sonho é ser jornalista, trabalhar nas mais respeitadas publicações dos EUA. Ele mora em uma cidade do interior onde nada acontece, e precisa sair dali para ter qualquer oportunidade. A pessoa mais próxima e querida dele, sua avó, vive em uma clínica porque sofre de Alzheimer. Sua mãe é uma mulher destemperada da cabeça que depois de separar-se do marido desistiu da vida e decidiu passá-la inteirinha no sofá, a base de muito remédio e álcool. Seu pai é um canalha que nunca está presente. Na escola, ele sofre por ser “a única pessoa que tem QI maior do que o número da calça”, por pensar, em meio a um bando de pessoas que só acompanham a corrente, de tão mergulhadas nela que estão; incapazes de terem um pensamento independente, uma conduta autônoma, uma conversa inteligente.

    Seus dias seriam completos pesadelos - não fosse pelo fato de que eles tinham um sentido. Ele vivia fazendo algo que amava (escrever, cuidar do jornal da escola, clube da escrita e similares) e tinha um objetivo, uma perspectiva de futuro muito clara que estava determinado a fazer sua realidade concreta. No final da história, ele olha para trás e percebe o quanto isso era importante. Percebe que muito mais importante que chegar no ponto desejado, era o querer chegar que preencheu cada um de seus dias nesse caminho, e os fez felizes, marcantes, intensos, bem vividos. Mais importante do que o ponto final do jornada era cada um dos pontos e das estações de sua trajetória, que foram cheios e vibrantes porque tinham um significado, um motivo.
   
    Além de mostrar a história de alguém que sabia o que queria e estava disposto a pôr a mão na massa para consegui-lo, o livro deixa uma muito poderosa mensagem que - talvez, lá no fundo - todos nós saibamos: todo mundo precisa de um sentido. Um motivo, uma razão, um amor maior, um querer. Aquele algo que faça o coração dançar um bom samba e o tempo congelar no relógio. Algo que empolgue, entusiasme, faça você levantar da cama todas as manhãs com ânimo e gana e energia.

    Sem um sentido, nós só vagamos, não vivemos. Passamos pelo mundo, mas não existimos. Sem um sentido, tocamos a vida como quem toca uma charrete sem ter para onde ir ou porquê caminhar, uma charrete por acaso encontrada na estrada como um presente que alguém resolver deixar, mas nós não sabemos muito bem o que fazer com ele, ou como aproveitá-lo.

    Uma vida sem pretensão, sem propósito, sem um porquê e um rumo não é realmente uma vida. É uma coleção de dias passados simplesmente, em uma sequência que entedia, e progride andando como uma esteira, nos deixando no mesmo lugar em que estamos: lugar nenhum.
   
    Temos alguma determinada missão aqui, um papel específico e bem estabelecido a cumprir? Fazemos parte de um plano maior, de Deus ou do Destino, do que seja que cada um acredite? Talvez. Talvez sim, talvez não. Não sabemos, e não podemos saber. Mas enquanto não sabemos, justamente também por não sabermos, não podemos esperar cair do céu o nosso papel ditado certinho com instruções escritas de como realizá-lo. Precisamos preencher essa lacuna por nossa conta, projetar o nosso próprio plano, e fazê-lo acontecer. Escrever a nossa própria vida, dar um jeito de nos tornarmos protagonistas da nossa história. Protagonistas, nem coadjuvantes, nem espectadores - que só assistem e só esperam. A vida é curta demais para esperar, urgente demais para adiar, breve e fugaz e preciosa demais para escolhermos não vivê-la, só vê-la passar...


Um comentário:

  1. Obrigado pelo texto!! Obrigado por existir e fazer parte da minha vida!!

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