quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Humanidade - dois pesos e duas medidas

                                                                 


    Creio que todos nós, em certo momento ou outro, nos pegamos no erro muito sério de utilizar parâmetros diferentes para avaliar elementos semelhantes. Isso é ruim não só porque borra o nosso julgamento e o torna já de antemão desigual mas também porque pode acarretar danos graves. No que estou pensando ao dar esse exemplo? Em mim mesma. Vou explicar melhor.
   
    Eu sofro da muito perigosa síndrome do perfeccionismo, da intolerância ao que não encaixa-se nos meus altos padrões. Contudo, essa síndrome só afeta ao que eu mesma faço, não se estende aqueles ao meu redor, sejam eles os meus mais próximos ou mais mais distantes. Eu não consigo lidar com meus erros. Sobretudo, não suporto a consciência que depois de cometê-los me tortura lenta e poderosamente.

    Não é que eu não consiga lidar com as repreensões de outras pessoas. Elas me desconcertam enormemente também, quando as julgo justificadas. Contudo, as repreensões mais difíceis de aceitar são aquelas vindas da minha própria consciência. À minha própria maneira, sou vítima e algoz de mim mesma.

    Aceito sem dificuldades os erros alheios, reconhecendo neles um sintoma de sua natural condição de ser humano, falho e faltoso, imperfeito. Balanço os ombros, rio deles sem uma mácula de tristeza no rosto ou no peito. Afinal, acontece. Todo mundo erra. E quanto melhor aceitarmos isso, menos sofreremos desnecessariamente. No entanto, a mim mesma não rogo tal piedade.
   
    Não justifico meus próprios erros pautada na minha humanidade. Na minha impossibilidade de acertar sempre. No fato de que eu também estou aqui para aprender, não nasci sabendo e muito proveito posso tomar dos meus próprios erros. No meu esquecimento, na minha limitação a um só corpo e uma só mente, que não podem se desdobrar em mil, que não podem atender a todos, a todas as demandas, em todos os momentos.

    Em vez disso, me martirizo. Porque eu deveria ter lembrado. Deveria ter sido ainda mais maleável. Deveria ter antecipado o imprevisível imprevisto. Deveria ter contado com a velocidade em que corre o relógio. Poderia ter me portado melhor. Poderia ter mantido a calma. Poderia ter me esforçado um último pouquinho a mais, excedendo o já exagerado muito que tinha solicitado o professor. Poderia ter adiado minha viagem ainda algumas horas para aliviar a barria de um colega que não estava pensando em mim ao, por pura falta de compromisso, atrasar sua entrega do trabalho para além do prazo combinado. Poderia ter sido ainda mais explícita ao demarcar o prazo da entrega. Poderia ter me desdobrado um pouco mais. Poderia... Deveria...
   
    Em verdade, eu deveria mesmo é aliviar meu próprio sofrimento ao suavizar a dose de autocobrança. Deveria aprender a lavar minhas mãos, com água limpa e sabonete, sem a poluição da culpa. Deveria calar com firmeza minha própria consciência quando ela insiste em ser desmedidamente mais dura comigo que com qualquer um outro na mesma situação. Deveria não ser tão severa comigo mesma, e fazer as pazes com minha própria humanidade.

2 comentários:

  1. Acho que nem preciso dizer como este texto me descreve, não é mesmo? É bom saber que mesmo nos infortúnios existe alguém que nos entende.

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    1. Que bom, caro Unknown, que te sentes confortado com as minhas palavras. Todos gostamos de saber que não estamos sozinhos, não é mesmo? Principalmente numa sina tão difícil quanto essa tal de auto cobrança...
      Obrigada pelo comentário!

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