quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Raízes (e galhos) do Brasil

                                                                   
  
   Recentemente, estive lendo um grande clássico da historiografia e sociologia brasileira cuja leitura me incomodou e inquietou sobremaneira. Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, explora vários aspectos da formação e do passado do país fundamentais para entender o Brasil, o brasileiro, a cultura brasileira como eles são nos nossos dias.

    Sem entrar na discussão mais acadêmica das ideias dele, que já são muito contestadas, tenho alguns singelos e inocentes comentários a fazer: dentre os temas abordados e elaborados na obra, um dos que mais me chamou a atenção foi aquele relativo ao comportamento lusitano quanto ao Brasil em seu começo, que não é lá muito diferente do comportamento (e da mentalidade) do brasileiro de hoje em relação ao seu próprio país.

    No capítulo IV, “O semeador e o ladrilhador”, Sérgio Buarque traça algumas das principais diferenças entre a colonização da América portuguesa e aquela da América espanhola, esmiuçando gradualmente o porquê desse nomes. Para ele, enquanto o espanhol é ladrilhador, determinado em edificar, construir, projetar e levar a cabo uma organização sólida em seu território no Novo Mundo, fazendo-o como uma extensão de sua própria casa (contando inclusive com universidades e cidades planejadas), o português é, por outro lado, um semeador.

    O português − muito mais um mercador, tencionando estar de passagem, que um colonizador, engajado em um empreendimento de povoar e construir − veio para cá querendo explorar o que havia de riqueza fácil e acessível e, logo depois, ir embora. Qualquer iniciativa que fosse dar despesas, exigir investimento e planejamento e esforços era prontamente refutada, sem ganhar a menor consideração. O português que veio ao Brasil lá nos seus primórdios não queria aproveitar a terra para aprimorá-la, engrandecê-la, fazer dela a sua casa. Queria se aproveitar da terra, extrair dela tudo o que pudesse para si, e voltar a Portugal o quanto antes.

    Ora, se não é esta justamente a posição de muitos brasileiros hoje em relação ao próprio Brasil? Cada um pensa em si e no seu próprio ganho, o mais imediato possível, sem considerar o custo que isso pode ter numa mais ampla escala ou o quanto poderia ser multiplicado se feito em colaboração, com mais planejamento e cuidado. Quase ninguém hesita em furar uma fila − qualquer que seja ela − quando tal oportunidade lhe é apresentada, sem pensar que seria melhor para todos que ela fosse respeitada e tudo funcionasse nos seus devidos conformes.

    Incomodamente intrigada, percebendo que a situação mudou pouquíssimo desde o início do nosso país até aqui, eu fiquei me perguntando... Quando é que nós vamos começar a pensar na nossa terra como um país, uma nação? De todos, por todos, para todos?

    Quanto vamos deixar de enxergar um monte de “eus" e começar a ver um grande “nós”?
   
    Quando vamos nos dar conta de que, quando a gente faz e cresce e desenvolve junto, a gente faz e cresce e desenvolve melhor? E que um investimento a longo prazo quase sempre demanda mais paciência mas também traz melhor resultado?
   
    Quando? Quando deixaremos de reclamar que “o brasileiro é deseducado”, e nós, brasileiros, nos portaremos de forma diferente e faremos uma país educado? Quando deixaremos de dizer que “o povo é pequeno, por isso o país não cresce” e nós, o povo brasileiro, faremos um país grande?

    Quando será que, incapazes de mudar essas raízes do nosso Brasil, promoveremos uma entusiástica metamorfose de seu tronco e galhos, transformando-o em algo de que podemos nos orgulhar?

    Mais do que uma questão para se pensar, essa é uma questão na qual se agir.

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