quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O poder das palavras

                                                              

                                                          
     Eu gosto de palavras. Gosto das palavras.

    Gosto de como elas não nos pedem permissão para ser. E gosto de como não somos nada sem elas. Como nós lhes pedimos permissão para ser.

    Gosto de como elas nos são companhia, companheiras cantantes quando só há solidão em volta. Gosto de como elas nos alegram, têm o poder de nos fazer sentir bem. Gosto de como fazemos amigos por elas. Através delas, com elas, por elas.

    Gosto de como elas são canaletas de nossa vida, via pela qual vivemos, caminhos pelos quais nos enveredamos - e expomos e abrimos, nos expressamos. Ou nos escondemos.

    Gosto de como elas são extensões de nós mesmos.

    Gosto de como são plurais. E foguetórias. E várias. E cativantemente bêbadas. E maleáveis.

    A maleabilidade das palavras é um encanto, seu encanto. Encanto permanente, sólido. Graciosamente perpétuo.

    A maleabilidade é o estado físico natural da palavra pura. Em quaisquer graus. Condições milhares de temperatura e pressão.

    Com as palavras, podemos brincar, podemos dançar... Com as palavras, podemos sonhar.

    Gosto de brincar com as palavras, de dançar com as palavras, na pista das palavras, sob a luz das palavras, a música das palavras. Sentindo o gosto das palavras, o cheiro das palavras, o aperto das palavras, o pulso bailante das palavras.

    Gosto de como podemos contar as palavras. Novelizar as palavras, cronicar as palavras, romancear as palavras. Rimar as palavras, cantar as palavras, versar as palavras. Poetizar as palavras, poemar as palavras. Namorar as palavras, casar as palavras, separar as palavras, divorciar as palavras. Rejuntar as palavras.

    A palavra é um universo inteiro.

    Uni-verso.

    Palavra.

    Gosto de como podemos cozinhar as palavras, temperar as palavras, beber as palavras. Fritar as palavras, untar as palavras, besuntar as palavras, saborear as palavras, sublimar as palavras. Evaporar as palavras. Misturar as palavras. Reservar as palavras, congelar as palavras, descongelar as palavras. Aquecer as palavras, aquecer com palavras. Servir as palavras. Dividir as palavras. Alegrar com as palavras, satisfazer com as palavras, fazer sorrir com as palavras. Fazer sorrir, ou engasgar. Ou tossir.

    Gosto de como podemos morder as palavras, mastigar as palavras, engolir as palavras, digerir as palavras. Excretar as palavras.

    A palavra é alimento. Dê-me pão, dê-me água, mas dê-me palavras também.

    Palavras doces, por favor. Amargas, não. Palavras cremosas e leves. Não duras, nem ásperas, nem secas, nem pesadas.

    A palavra é a nutrição da alma. Alma que encontra seu par nas palavras, sua voz nas palavras, seu silêncio nas palavras. Alma que se encontra nas palavras, o palco maior de sua colorida existência. Um espetáculo.

    As palavras encantam. Cantam, ninam, embalam, adormecem. As palavras dão colo. As palavras afagam. As palavras acalmam. As palavras são bálsamos, carícias, beijos e abraços. Carinhos que confortam.

    As palavras revoltam. Incomodam, perturbam, inquietam. Entristecem, melancolizam. Questionam, respondem - ou não respondem. As palavras desnorteiam. Fazem coçar, fazem chorar, sacodem. As palavras fazem amor, e a revolução. Viva à revolução!

    As palavras são minas. Minas de ouro, minas de prata, minas de amor. Minas de ódio. Minas de inveja. Minas de ternura, de carinho, de amizade. Minas de beleza. De beleza são, para sempre, uma fonte incontrolável.

    Palavra - palavrar, palavrei, palavramos. Palavraremos.

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