quarta-feira, 13 de maio de 2015

Ao maior amor que existe - mãe

                                                                


    Oi, mãe!
 
    Tudo bem?

    Que saudade...

    Eu queria te falar tantas coisas, mas justo agora que me ponho a escrever, as palavras me faltam. Danadinhas; quando a emoção parece demais para elas, elas fogem.

    Nessas horas, normalmente, a gente fala mais por gestos. Como você tantas vezes fez.

    Lembra quando você me dava colo, acalmando meu cabelo enroladinho, depois de eu espetacularmente ralar o joelho brincando na rua? E, mais velha um pouquinho, também nos primeiros dias da escola, quando eu tinha medo de ficar lá sozinha e precisava perceber a sua presença na hora do recreio para ficar tranquila? E, mais velha ainda um pouquinho, quando eu comecei a descobrir como o mundo pode ser cruel; e, as pessoas, maldosas, e precisava do seu aconchego para me sentir segura de novo?

    Você não me iludiu naquela ocasião, não disse uma sequer palavra de consolo ou engano, mas deixou a desilusão terminar, sempre mostrando que estava ali para mim. Então, eu não sabia, mas hoje eu sei: naquele momento, naqueles todos momentos, você me ensinou a ser forte. Você me ajudou a crescer.

    Lembra quando, pequenina, eu te via lendo e, querendo crescer, me punha a imitá-la? Lembra quando, malandrinha em termos, eu ficava lendo e lendo e esquecia de estudar, e você passava, olhava, continuava, com um sorriso sorrateiro, sem falar nada?

    Você pôs o primeiro gibi na minha mão e o primeiro lápis. Você me ensinou a juntar as letras, a brincar com as palavras e, muito mais do que isso, a fazer sentido do mundo, a ler as pessoas, a compreender a mim mesma. Mãe, você me ensinou a pensar, a pensar com minha própria cabeça. Você me ensinou a usá-la bem. E isso não é pouco.

    Lembra quando você me deu gostoso abraço e me cobriu de beijos quando, certa vez, eu ganhei um prêmio na escola? E, no final do ano seguinte, quando eu não ganhei o mesmo prêmio e fiquei desapontada, você me deu mais gostoso e forte abraço ainda e mais torrencial chuva de beijos, dizendo que não precisava que eu ganhasse medalha nenhuma, porque você era muito orgulhosa de mim, independentemente, e me amava muito, por eu ser a simples tão especial pessoa que eu sou?

    Tudo o que eu fazia era para ver um sorriso no seu rosto, um sorriso de orgulho, e ver você estufando o peito para falar de mim com as outras mães. Mas, eu não entendia que você é muito maior que isso - você não liga para títulos e medalhas e conquistas. Você só precisa de mim, que eu seja eu mesma e seja feliz e esteja perto, para você ser feliz.

    Lembra, na primeira vez que eu saí de casa, para passar uma semana inteira longe, como você me ligava de dez em dez minutos, durante a viagem, só para ouvir minha voz e assegurar-se de que eu estava bem, e, durante o dia, todos os dias, umas dez vezes, no mesmo propósito? Lembra, quando eu cheguei, como você fez uma festa para mim, para a minha chegada, e preparou todas as coisas gostosas de que eu tanto gostava, e nós ficamos acordadas até tarde só para a gente poder falar de todas as minhas aventuras, todas as minhas novidades?

    Se eu parecia achar chato ou obsessivo o seu zelo, a sua preocupação, hoje eu sei que tudo isso só significa cuidado. E, mesmo na época, no fundo, eu achava fofo, era grata, ficava feliz: você me fez perceber como eu era amada.

    Lembra quando eu estava crescendo e queria sair e papai ficava de cara fechada, olho arregalado e não queria deixar, de jeito maneira, e você revirava os olhos a todas as objeções dele, a todo o bombardeio de perguntações de onde eu ia, com quem, o que estaria fazendo? Lembra como, com um olhar, você convencia-o a deixar eu ir e, com o mesmo olhar, erguia as sobrancelhas para mim, dizendo - no silêncio, para ele não ouvir - “a vida é uma só e a juventude também, vá viver a sua, e viva bem. Mas veja lá o que vai aprontar, hein? Juízo. E não pense que não sei o que vai pela sua cabeça porque sei sim. Eu já tive a sua idade”.

    Você me deu liberdade para eu agir com responsabilidade. E assim, eu fiz. Ou gosto de pensar que fiz. Ali, eu ficava radiante não só por poder ir e aprontar todas (mentira, mãe, eu sempre fui bem comportada!) mas por sentir em você uma amiga, uma companheira, uma confidente - que, ainda por cima, tinha a vantagem da experiência e podia me ajudar a lidar com todas as coisas das quais eu ainda não sabia. Você tinha percorrido o caminho antes de mim.

    Lembra quando as primeiras decepções vieram, e você esteve ali para mim, o tempo todo? Acho que, no fundo, você sabia que seria assim. Mas tinha que deixar eu ir, tentar me alertar seria inútil, e era importante eu quebrar a cara sozinha. Deixar eu cometer meus próprios erros era parte de uma jornada dura mas necessária para mim e para você também: para mim, a dura jornada de crescer. Para você, a de me ver crescendo, crescendo para o mundo.

    Lembra quando, ainda crescendo, eu tive que escolher minha vida, escolher o meu caminho, e andava pela casa angustiada, inquieta, falava e falava e falava e você só ouvia, sem dizer nada, até eu chorosamente perder a paciência e pedir ajudar, e você pacientemente pôr a mão no meu ombro e dizer que você não podia me ajudar mais, agora, porque a decisão não era sua, era minha para tomar? Porque a minha vida estava nas minhas mãos e cabia a mim, somente, a decisão do que fazer com ela, de que rumos dar a ela, enquanto você apoiaria o que quer que fosse que eu decidisse e me ajudaria de todas as formas possíveis nos primeiros passos desse caminho. Lembra, mãe?

    Naquele momento, mais uma vez, você me ajudou. Você me forçou a ser eu mesma, a construir o meu próprio caminho, a construir a minha identidade, eu mesma. Eu sou grata, mãe, você me deu todo o apoio. E você não podia, mesmo, escolher por mim.

    Lembra quando, tantas vezes, maior um pouquinho, eu duvidei de minha capacidade, tive dúvidas e medos e descrenças, achando que tão fácil quanto alcançar os meus sonhos seria alcançar o céu? Lembra quando você não me deixou desistir?

    Hoje, eu já alcancei um pouquinho dos dois, e boa parte da boa culpa por isso é sua. Tem dedo seu nisso; dedo e mão e dedicação e alma inteira.

    Aliás, você está mesmo em tudo. Você é minha referência maior, minha certeza, minha segurança, meu lar. Você me fez a pessoa que sou hoje. A você, eu devo a minha vida, o que tenho, o que sou. O que penso. O que escrevo. E hoje, estou aqui, desastradamente tentando pôr em palavras todo o meu amor, toda a minha gratidão.

    Porque, no fim das contas, é isso o que mais sinto, e isso é tudo mesmo o que tenho a dizer.

    Obrigada, mãe, por tudo. Eu espero que, no futuro, eu possa ser para os meus filhos um pouquinho da mãe que você é para mim.

    E, por último, só mais uma coisinha: eu te amo.

    Essas são as palavras que, para você, não fogem nunca.

    Um beijo,
    Vitória
   

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