domingo, 17 de abril de 2016

Por que(m) estamos brigando?

                                                                               

          Em um de seus muitos livros que já li, em um parágrafo brilhante que entre eles não consegui encontrar para citá-lo aqui, Philippa Gregory empresta sua voz a um de seus personagens para fazer afirmação muito contundente: a Inglaterra do início da época moderna não era realmente um país. Era um território mais dividido que unido, onde famílias ricas e influentes brigavam entre si por ocupar o poder, esquecendo-se - ou deixando-se esquecer - da terra que administravam, do bem comum que deveriam estar buscando, do povo que das consequências de suas decisões vivia ou morria, padecia ou celebrava. Eram Howards, Tudors, Boleyns, Cromwells, Dudleys e alguns outros clãs dos quais devo estar me esquecendo. Era um conjunto de vilas e grupos comandados por eles. Não era A Inglaterra.

          O Brasil, não no século XVI, mas no XXI, sofre parecido. Podemos nos utilizar deste mesmo raciocínio para descrever a situação que vivemos. Ou não é verdade que, mais do que de quaisquer bandeiras ou projetos ou ideias, nós vemos um confronto de grupos - a bem da verdade, entre si mais semelhantes do que dissemelhantes? Ou não é verdade que somos chamados a "tomar partido", a "escolher um lado" numa conjuntura em que muito mais produtivo que trocar raivosos brados desperdiçados seria que déssemos todos as mãos e gritássemos, juntos, num único sentido?

        Ah, falar sobre isso me aborrece! Como me aborrece! Aborrece-me porque é do interesse de quem quer dominar uma massa tê-la toda fragmentada, toda fracionada, brigando entre si, servindo a interesses que não são seus, que não lhe beneficia. Porque, enquanto continuarmos não enxergando isso, não superaremos essa condição que nos mutila e nos mantém encarcerada. Continuaremos sendo pequenos porque não conseguimos pensar grande. Pensando em times, não em unidade. Pensando em lados que supostamente nos representam e, em verdade, representam o que lhes convém, no momento que lhes convém, de acordo com o que lhes convém.

          Em suma, minha posição é esta: não tomemos posição uns contra os outros. De nada nos adianta incorporar esse espírito raivoso que nos é insuflado. Sejamos o Brasil, um país. Sejamos em vez de uma horda de dissonantes acordes mal juntados em música, uma orquestra. Sejamos, em vez de uma porção de fragmentadas partes parcamente coladas, um todo. Sejamos, ao invés de uma dicotomia pobre, ao invés de vários "eu"s desencontrados, um grande "nós", um plural rico e variado e sólido, um grande coletivo singular. Brasil.

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