quarta-feira, 20 de abril de 2016

Por que(m) estamos brigando - parte II

                                                                              
                                          
   Lástima, ridículo, tragédia. Choque, embasbacamento, desilusão. Creio que essas palavras sumarizam bem o que presenciamos no último domingo e as sensações que nos marcaram então - senão a todos, gosto de pensar ao menos a uma razoável porcentagem de nós.
   
    Saudades do 7 x 1? Ouvi algumas pessoas dizendo que sentiram. Preciso dizer que consegui entendê-las. Na memorável partida, vimos Alemanha versus Brasil - ou, aliás, a seleção alemã de futebol versus a seleção brasileira de futebol. Domingo, vimos brasileiro contra brasileiro. Particularmente, essa é uma de minhas maiores tristezas. É auto-sabotagem. É tolo. É, vamos e venhamos, uma mestra expressão da arte da burrice.
   
    Os tantos clamores que ouvimos confirmam o que comentei anteriormente: nós somos míopes e individualistas, uma “irmandade” toda cheia de ranhuras. “Pela minha mãe, meu pai, o papagaio e o cachorro”, “por quem me elegeu e por Deus” (será que Ele é mesmo brasileiro?) são falas sistemáticas que ilustram bem como cada um de nós pensa por si e pelo seu grupo, não pelo todo. Como só vemos o particular, nunca o geral; só o privado, jamais o público; só o “meu”, nunca o “nosso”.
   
    Como, entrando em confronto entre nós, perdemos a noção de que o bem buscado é comum e que, se fosse mais igual, beneficiaria a todos. Como, pensando em um (incerto) ganho imediato, deixamos em segundo (terceiro, quarto, último) plano o pensamento de longo prazo. Como, em clima de festa, que nos divide em times estupidamente rivais (e, francamente, parece estar insanamente celebrando o encontro do Titanic com o iceberg), nos esquecemos das consequências da bagunça e da sujeira que ela está causando.
   
    Não quero ser simplista - esta que, aliás, parece ser outra doença crônica do brasileiro, reduzir todo um conjunto de fatores complexo que explica a situação a um ou outro simples aspecto. Atribuir responsabilidades, avanços ou lambanças, de todo um corpo de pessoas a somente uma ou outra eleita para Cristo. Mas, se há uma luz em tudo isso - e eu preciso acreditar que há - é que aprendamos.

    Que aprendamos que nossas escolhas têm consequências. Que se contratarmos palhaços, eles farão palhaçadas. Que aprendamos, conforme o velho e tão sábio ditado, que a união faz a força. Que a divisão só traz fragilidade.

    Que escolhamos melhor quem estamos permitindo (pagando para) que fale por nós. (Sim, por Nós!) Que enxerguemos feitos, não discursos; projetos e ideias, não rostos e pessoais simpatias. Que joguemos no chão esse edifício todo cheio de rachaduras, apartamentos que nos dividem, e ergamos em seu lugar uma oca. Uma oca mais sólida e mais coesa, em que todos percebam que se afetam igualmente por todos os danos que a casa sofrer. Uma oca em que todos percebam que as divisões entre si não são a seu benefício, mas a seu prejuízo.
 
     Uma oca que é nossa pátria e nossa nação. Uma oca, uma terra e um país que possamos chamar de lar. De, verdadeiramente, nosso Brasil.

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