Conversar: 1. falar com alguém. 2. discutir, falar sobre
Conversa: s.f.: troca de palavras entre duas pessoas, diálogo
Com, con ou co: conjunto, companhia
Versar: versejar, pôr em versos uma história em prosa, versificar.
Fazer versos, poetizar.
Conversar. Parece tão simples que nós desmerecemos e ignoramos a
arte em torno do ato. Afinal, não basta estar próximo a alguém,
que às vezes nem é um conhecido, e começar com ele um intercâmbio
de palavras que já se está conversando? Não necessariamente.
Conversar. Con-versar. Versar com. Analisando poeticamente a
palavra, percebemos que ela tem dois núcleos principais que já nos
dizem seu significado. Con é o prefixo que indica, como
apontei acima, companhia. É o mesmo presente em consenso,
compartilhar, coexistência, conjunto. Embora na palavra conversar
ele não funcione oficialmente dessa forma, eu não acho que ele está
aí à toa; ele nos mostra que a conversa é uma atividade que não
se pode fazer sozinhamente, é um empreendimento que precisa de, no
mínimo, duas pessoas para ser realizado. É uma troca, um
intercâmbio. Diálogo.
Das duas etapas da construção artística, talvez esta seja a mais
bonita. Pois, ela nos força a ver e, principalmente, ouvir o outro;
a entrar em contato com ele no mais profundo sentido que “contato”
tem, ligando-se a ele em seu interior, em suas ideias, sua alma, no
que sente em relação ao tema conversado, em como se sente em
relação a conversa em si, e a nós, como está reagindo frente a
tudo isso. Conversar é a bela atividade de ler o outro, através
também de sua falante linguagem que não é dita, e escrever com ele
uma pequena história - ou uma cena - de nossas vidas, o diálogo que
ali se faz. Envolve olhos nos olhos, o eventual toque, o sorriso e o
aceno, coração. Conversar é um exercício de humanidade, pois pede
empatia, a capacidade de colocar-se no lugar do outro e tentar
entender o que ele está pensando e querendo dizer; pede paciência,
tolerância e tranquilidade. Pede abertura para vários pontos de
vista, ao conversarmos com diversos tipos de pessoa. Pede compreensão
e bom senso, a sábia habilidade de perceber a hora de falar, de
calar, de abrir e fechar parênteses, destacar exclamações, abrir
travessões, deixar reticências...
Versar sozinho, portanto, é muito diferente de conversar,
que não é nem pode ser uma atividade de monólogo direcionado,
explicação de uma teoria, falado poema de via única. Uma conversa
é uma partilha, um ato de conhecimento, reconhecimento,
autoconhecimento. Um ato conjunto. Um poema de mão dupla, uma
escultura feita a dois, ou mais. Construída a partir da interação
dos artistas.
Versar, por sua vez, nos diz que quaisquer palavras trocadas
não são obrigatoriamente elementos de uma conversa. É preciso
versar, tanto no sentido da forma quanto do conteúdo. Do mesmo jeito
que se tece uma história, um texto, uma música, é preciso tecer
uma conversa. Com cuidado, com carinho, escolhendo as palavras,
juntando-as como retalhinhos essenciais da colcha que é o diálogo.
Fazendo algum sentido, tendo um fio condutor que amarre a prosa
direitinho e a leve a algum lugar, fazendo com que os participantes
tirem algum proveito da conversa. Pois, a conversa é uma troca não
só de palavras, mas de palavras em verso. E nem só de versos,
palavras versejadas é uma troca, mas de ideias. Ideias traduzidas em
palavras, palavras que devem realmente dizer alguma coisa. Versar
sobre um assunto, ter um sentido.
Assim, tanto mais bela e inspiradora é a conversa quanto mais bem
cabidos são seus termos, mais adequados eles são ao tema abordado,
à situação contextual da conversa, à pessoa com quem se conversa.
(E é por isso que vem antes o con, depois o versar; já que primeiro
se faz um exercício de leitura e compreensão, depois de construção.
Primeiro se compreende o “com quem” e seu entorno, depois se
edifica e devagarzinhamente costura e borda o “o quê”.) E tanto
mais rica e enriquecedora é a conversa quanto mais esforço e
entrega são postos ali, quanto mais alma existe, e mais genuína e
profunda doação e troca acontecem entre os entes conversantes.
Con-versar, meus amigos, é uma obra conjunta, uma arte que deve ser
feita a duas mãos. É das mais antigas a arte, e também das mais
belas. Das mais sutis e mais grandiosas, enquanto mais cotidianas e
mais melindrosas, a arte de trocar ideias através de palavras. A
arte de poetizar em prosa, de prosear em grupo. De interiormente
enriquecer e ao mesmo tempo externalizar sua riqueza, de expressar o
que tem dentro de si e conhecer o expresso do outro.
Que não negligenciemos a magia e o valor que pode haver numa
conversa, e não nos deixemos esquecer de apurar e enxergar a arte
que existe no fazê-la. A arte de conversar.
Eu estava esperando por esse!
ResponderExcluirRealmente há algo de artístico na conversa, e esse quê de arte, para mim, está na cooperação exigida para que uma simples troca de palavras se torne um diálogo, versos unidos, entrelaçados... Conversantes.
É engraçado como essa atividade é banalizada. Mas muitos de nós não sabemos conversar, e o pior, não percebemos... Não sei se o problema está na cegueira que adquirimos com o tempo em relação às artes cotidianas ou apenas na falta de empatia.
Sem mais delongas, adorei o texto.
P.S.: É sempre bom conversar contigo (:
Eu estava esperando por esse!
ResponderExcluirRealmente há algo de artístico na conversa, e esse quê de arte, para mim, está na cooperação exigida para que uma simples troca de palavras se torne um diálogo, versos unidos, entrelaçados... Conversantes.
É engraçado como essa atividade é banalizada. Mas muitos de nós não sabemos conversar, e o pior, não percebemos... Não sei se o problema está na cegueira que adquirimos com o tempo em relação às artes cotidianas ou apenas na falta de empatia.
Sem mais delongas, adorei o texto.
P.S.: É sempre bom conversar contigo (:
É sempre bom conversar contigo também!
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